(It won't be entirely accurate, but it will give you an idea of the issue) .
Durante a leitura de um outro livro, tropecei neste excerto da obra de Schopenhauer, "Aforismos para a Sabedoria da Vida":
"O elemento principal no bem-estar de um indivíduo – de fato, de todo o seu modo de existir – é aquilo que o constitui, que ocorre dentro dele próprio. (...) O mundo em que cada qual vive depende principalmente da sua própria interpretação desse e, assim, mostra-se diferentemente a homens diferentes;
Por exemplo, apesar de muitos invejarem os acontecimentos interessantes que ocorreram ao longo da vida de um homem, deveriam, em vez disso, invejar o seu dom de interpretação que imbuiu a tais eventos com a significância que têm na sua descrição. O mesmo evento que parece interessante ao homem de gênio seria somente uma cena monótona e fugidia da vida quotidiana quando concebida pela mente superficial de um homem comum."
Encontrei nas palavras deste pessimista trágico, que também falava do Amor, da Vontade e do caminho da Estética uma ponta do fio que tanto prezo: o valor dos significados que damos às coisas que nos passam pelos dedos. A importância do valor dado dentro aos mundos vividos fora.
Porque as boas histórias que gosto de contar são feitas de pormenores comezinhos, de detalhes que vi sem ver, de pequenas coisas a que me agarrei num segundo de passagem. Porque nunca vivi uma aventura fenomenal em si mesma, e apesar disso conto muitas como se o fossem. Porque o são. Em mim.
Não vivi numa tribo africana durante meses de chuva e de sol, não participei em rituais à luz de uma fogueira, não contribui com decisões que mudaram a História, não viajei pelo globo conhecendo 5 cantos dos 4 por conhecer.
Mas sentei-me numa ponta de rocha, morna do sol, num pico de Cadaqués a ver o mar ali em frente, magnífico, estupendo, a mostrar-se todo.
E recebi 1 dólar e mais uns trocos de uma senhora negra no autocarro onde acabava de subir, recém-chegada a Nova York e a caminho de Brooklin, para poder apanhar o próximo autocarro com dinheiro trocado.
E ri-me com gargalhadas de dentro à neve, em Malmö, a ver tanto branco e frio que não me cabiam no entusiasmo.
E tremi durante uma noite inteira em Roma, a imaginar não acordar mais, à espera de ver a personagem principal do Psycho entrar-nos pelo quarto dentro e desfazer-nos em postas.
E dormi num dos melhores hotéis de Filadélfia gratuitamente, depois de uma noite no pior hostel da cidade no dia em que apresentava pela primeira vez uma conferência em inglês durante hora e meia, graças à generosidade de um colega luso.
E vi um pôr do sol em Mykonos a dançar, a dançar muito, aos saltos, só porque sim, acompanhada de um grego bailador que conhecera há 48 horas atrás e que me ficou no Amigário.
E saí de uma cidade sofisticada e cosmopolita para uma pequena cidade do litoral português no encalço de um amor que me dura no para sempre.
E recebi por correio um pequeno livro sobre a Felicidade e o Principezinho de uma diretora de RH com cujo empresa costumo trabalhar e com quem partilho cortados e histórias entre gargalhadas, em cada reunião de negócios.
E partilhei com uma pequena de menos de 3 anos e olhos muito grandes, a primeira experiência de mandalas com muitas cores, muitas cores.
E em cada dia, em cada dia do quotidiano, daquele quotidiano que dura todos os dias, que contém as 24 horas de dias com potencial de repetição, de mais do mesmo, de normalidade, procuro os pormenores que posso fazer brilhar. Alimento as minhas histórias.
Procurar a subtileza e a grandiosidade dos momentos torna-se tarefa que faz grande o pequeno dos dias. Põe cores nos pretos e cinzentos a que se habituam facilmente os olhos. Cria histórias e "momentos interessantes", mesmo nas "cenas monótonas e fugidias da vida quotidiana", como diz o filósofo alemão amante do Amor.
A vida faz-se da forma como se vive. Os dias lá se arranjam para ter por perto o que necessitam para se fazerem maiores. E os olhos abrem-se, em busca desses pequenos nadas com que construir grandes feitos.
Que não falte a capacidade de interpretar o simples. O resto, esse minúsculo estímulo pronto a ser transformado em odisseia, acontece em cada respirar e espera os "homens geniais" para lhe darem sentido de aventura fantástica!
Bem-hajam a todos os geniais formados ou por formar, para que mundos mais cheios se construam e se façam, ao som da vontade de ver mais longe do que uma simples trepadeira que sobe pelo teto.
(Text originally written in Portuguese)