E por trás de um projecto estão sempre perspectivas, visões, subjectividades.
Hoje quis partilhar uma delas. A da importância do "Belo".
Chamo "belo" ao que me faz a sensibilidade vibrar. Ao que desperta processos de ir mais além. Ao que me faz parar para sentir.
"Belo" é o que os olhos vêem e o corpo sente, e como nisso se ressente. "Belo" é ficar ali porque naquele instante não há mais nada.
O Belo inspira. O Belo anima os dias, ressuscita das melancolias e põe perspectiva no que se vê de perto. Tinge tudo com um tom que convida a sentar ou a desatar a correr. Tudo numa celebração do que se acaba de ver.
Neste caminho, o Belo chega sempre, seja em detalhes ínfimos ou em tremendos sobressaltos. Chega nas cores de uma casa, nos nós de um tronco de árvore, no tecido de uma roupa, no tom de um céu de fim de tarde, na textura da areia fria de Inverno, numa ruga de expressão, numa posição de mãos envelhecidas, num pedaço de barba negra, na luz de um candeeiro pequeno. Chega sem aviso. Ou chegamos-lhe sem avisar.
Há Belo em cada lugar, mas há lugares que parecem ter recolhido em si mais átomos, ou em que os electrões devem ter despertado diferentes e feito uma conjugação que os tornou assim, cativantes aos sentidos.
Há cidades que parecem ter-se harmonizado de raíz e que desenrolam detalhes assim. Ruas que encaixam, cruzamentos em que o vento passa perfeito, pedaços de relva que têm mais verde, pessoas que ocupam os passeios com passos mais leves.
E há pessoas assim. Que caminham leve, ou que vestem solto, ou que olham longe, ou que pousam as mãos sem que elas toquem nada.
E há cheiros assim, que fazem fechar os olhos. E sons assim, que fazem mudar a cadência do passo. E paladares que fazem rir ou que levam ao silêncio.
Cheiros, sons, paladares belos. Belos em si ou belos em nós. Mas belos porque inspiram ou respiram ou transpiram algo que inunda quem lhes está perto.
Construir um projecto implica seleccionar a atenção e captar o que pode continuar a fazer ir longe, a criar.
Nesse processo empreendedor, a inspiração chega da rua, das conversas, de tons de voz, de aromas a café ou de expressões de gente. E em cada lugar por onde se passa, recolhe-se e entrega-se alguma coisa e cresce-se mais nas visões. Acrescenta-se um "Belo" ou dois ou três. E com cada Belo se cresce e se evolui.
Em homenagem à Beleza de cada coisa que, quando conseguimos captar, nos faz mais e imensos, deixo as palavras alinhadas. Porque a inspiração para crescer no que fazemos, no que faço, como pessoa, como THINKING-BIG, se faz de interiores que recolhem de todos os foras alguma coisa, cada dia.
(Dedicado e inspirado pela amiga e designer da THINKING-BIG, Eva Castro, pela sua visão de beleza do design e da vida).
(Text originally written in Portuguese)